domingo, 31 de outubro de 2010

Fonte: Uai divirta-se

Te cuida, capitão!

O trio Irandhir Santos, André Mattos e Sandro Rocha rouba várias cenas do megassucesso Tropa de elite 2. Filme de José Padilha trouxe novas perspectivas para a carreira desses atores.


Tropa de elite 2 entrou em sua quarta semana de exibição. Desde a estreia oficial, dia 8, algumas coisas continuaram iguais. Outras, bem diferentes. O longa-metragem de José Padilha, por exemplo, continua em cartaz em 698 salas, número muito próximo ao da estreia (661), consequência de seu estrondoso sucesso de público – em três semanas, atraiu 6,2 milhões de espectadores, quase três vezes o número que o primeiro filme levou aos cinemas em toda a sua temporada, três anos atrás. Ainda que o capitão Nascimento de Wagner Moura domine toda a narrativa, não há como negar: o elenco de coadjuvantes emplacou grandes momentos. Três atores pouco conhecidos do grande público, para muitos os melhores desta sequência, passaram, em dias, a conviver com o assédio.

Que o diga o pernambucano Irandhir Santos – ou melhor, Fraga, o grande rival, num primeiro momento, de Nascimento. Há quatro anos, ele vem fazendo cinema sucessivamente. Trabalhou com diretores bem cotados, como Cláudio Assis (levou o Candango de melhor ator no Festival de Brasília por Baixio das bestas), Karim Ainouz e Marcelo Gomes (em Viajo porque preciso, volto porque te amo). Nesse meio tempo, chegou à TV, na minissérie A pedra do reino, exibida pela Globo em 2007. Nada disso fez tanta diferença quanto o papel como intelectual de esquerda militante dos direitos humanos que se torna deputado.
Santos foi parado até em porta de banheiro de avião para receber felicitações pelo papel. “Desde o fim das filmagens, vi que com esse longa seria diferente. O que está me impressionando é o tamanho da repercussão, o que prova do que o filme é capaz”, comenta ele. O ator mal teve tempo de acompanhar a trajetória de Tropa 2, por causa de seu envolvimento com outro longa. Terminou, há duas semanas, de filmar Febre do Rato, dirigido por Cláudio Assis. Desta vez, Santos será o protagonista, um poeta anarquista que, no quintal de sua casa no Recife, produz o jornal Febre do Rato. Como a estreia em longa de Assis, Amarelo manga (2002), a fita é ambientada na capital pernambucana, misturando relações amorosas, política e questões sociais.

“Por causa desse trabalho, hoje enxergo minha cidade de forma diferente. Na verdade, quando termino cada trabalho não sou mais o mesmo. Se pensarmos no alcance popular de Tropa..., acredito que ele seja, sob esse prisma, um divisor de águas na minha carreira”, continua Santos. Afastado do teatro desde que ingressou no cinema, ele pretende voltar aos palcos.

O teatro também está na mira de outro ator do blockbuster nacional: André Mattos, que arranca risadas do público com Fortunato, apresentador de TV que se envolve com política e crime organizado. Filho de atores (Emilio e Zélia de Mattos, fundadores do Tablado), ele está preparando projeto de teatro itinerante. “Uma homenagem ao grande comediógrafo João Bethencourt. Dentro do caminhão, colocarei o repertório de quatro comédias. Viajaremos pelo Brasil, nos moldes das antigas carruagens teatrais”, conta Mattos, que vai filmar O analista de bagé, de Luis Fernando Veríssimo, para a TV Cultura.

Ator experiente, com extenso currículo no teatro e várias participações na TV e no cinema, geralmente em papéis coadjuvantes, ele tem os pés no chão. “Tropa... não é o primeiro filme importante que faço (trabalhou em O xangô de Baker street, de 2001, e Lisbela e o prisioneiro, de 2003). Como nos outros, minha vida continua a mesma. Já ganhei 18 prêmios e sabe o que mudou? Nada.” Porém, Mattos não consegue negar que a dimensão de Tropa... lhe abriu portas. “No teatro e na TV, a coisa não muda, mas no cinema você passa a ser mais procurado.”

Sandro Rocha agora está vendo direitinho o que são portas abertas. Grande vilão, o ator que vive Rocha/Russo (major da PM e miliciano) tem mais de uma década de carreira. Mas somente com o filme de Padilha teve o papel com o tamanho devido. Dos três, Rocha/Russo é o único que esteve no primeiro Tropa de elite. Ali, o ator fez muito pouco (lembra a tirada “quem quer rir tem que fazer rir”?), mas sua pequena participação lhe garantiu vaga na sequência.

“As propostas de trabalho estão chegando de algumas emissoras”, anuncia ele, de origem humilde como muitos personagens do filme. Sandro foi criado na região da favela de Lins de Vasconcelos, subúrbio carioca. Até conseguir a grande chance, penou em pontas e pequenas participações. Chegou, inclusive, a encarnar o Ronald, o boneco-propaganda do McDonald’s, para poder pagar as contas. Diferentemente de alguns colegas de elenco, Rocha conhece de perto o universo de que o filme de Padilha trata. “Para construir o personagem, fiz observação onde vivo, pesquisa na internet e usei minha intuição.” Agora que a fama bateu à porta – “hoje sou reconhecido nas ruas”, comenta –, Rocha pretende tocar seu projeto social, parado por falta de verba. Vai ensinar teatro a crianças das favelas.


Mais um?
José Padilha já disse que não, mas, com o sucesso do segundo Tropa de elite, especula-se (e muito) sobre um terceiro filme. Dos três entrevistados, somente André Mattos concorda com o diretor: “Fôlego para outro filme há, sem dúvida. Mas acho que não vai acontecer. O Padilha já tem outros projetos. O importante é que Tropa de elite já cumpriu sua função artística: levar o público à reflexão”. Sandro Rocha pensa diferente: “O tema nunca estará esgotado, ainda mais em se tratando de uma equipe de elite!”. Irandhir Santos vai além: “Quando lembro que, no primeiro filme, o Padilha falou que não iria fazer o segundo, vejo que há possibilidade de mais um”. 

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