sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Fonte: SRZD CINEMA

Entrevista exclusiva com Sandro Rocha, o grande vilão de

 "Tropa de Elite 2"





SRZD - Como foi o trabalho de pesquisa e laboratório para construção do Major Rocha, que conferiu uma atuação tão realista em "Tropa de Elite 2¨?
Sandro Rocha - Eu venho do Lins(bairro da Zona Norte carioca), então o exercício de observação lá me favoreceu nesse sentido. Também fiz pesquisas na internet, CPI das milícias...hoje existe uma série de documentos e matérias que podemos aproveitar na construção do personagem. Em paralelo, teve o trabalho com a Fátima Toledo(preparadora de elenco), o Paulo Storani(ex-capitão do Bope e consultor técnico do filme) e, também, o meu papel como ator, pois é preciso saber colocar o conhecimento em prática. Já fiz vários policias em participações na TV, mas a linguagem televisiva é completamente diferente da linguagem do cinema, que é uma outra concepção...então o trabalho tem que ser muito mais intenso. Particularmente sobre a milícia, a gente fez com a Fátima Toleto e com a ajuda desse material que buscamos, porque não existia um perfil como o de um policial, por exemplo, foi preciso criar sem referências.

SRZD - O seu personagem teve grande destaque e tem sido muito comentado por ser tão convincente. O que foi determinante para esse resultado de sucesso?
Sandro Rocha - O ator, assim como o jogador de futebol,por exemplo,  espera uma grande oportunidade... não começei ontem, estou há 15 anos na carreira, e quando existe a oportunidade, ou você chuta a bola no ângulo ou você chuta pra fora... e eu chutei no ângulo.(risos)

SRZD - Como é a sua rotina desde o lançamento do filme?
Sandro Rocha - Bom, eu acordo e não tomo café..(risos) Vou dar entrevistas, até cinco por dia... e estou fazendo palestras motivacionais no mundo corporativo, incentivo de vendas, já que é um ramo que conheço mundo bem, pois vim desse mundo. É uma vertente que abriu também na carreira. Então, está muito corrido desde a hora que acordo até a hora que o meu dia acaba às 22h30, mas não é todo dia. Tenho três filhos e a minha filha uma vez perguntou "Quem é essa cara que está chegando aí?". Tem que ser tudo bem mapeado, senão complica...

SRZD - Conseguiria eleger uma entre as diversas cenas intensas para eleger como a que mais mexeu com você?
Sandro Rocha - A cena com a Tainá Müller(que interpreta a jornalista Clara e acaba executada a mando do Major Rocha por investigar os milicianos). Aquela cena pra mim foi muito difícil porque desde a preparação, o processo da Fátima(Toledo) não pode ser feito mais ou menos, você tem que se entregar... e eu batia muito nela, no processo de preparação e também no dia da cena. Então a cena mais difícil que fiz no "Tropa" foi essa com a Tainá e ao mesmo passo foi a cena que eu mais gostei porque a entrega dela me surpreendeu bastante. Quando você tem uma atriz ou um ator que troca em cena é fundamental. A Tainá provou ali que ela é "caveira".(risos)

SRZD - Alguma vez se machucou durante as cenas de ação e violência?
Sandro Rocha - Durante a cena não, mas durante o processo, várias vezes. A minha área era porrada o tempo todo. Fiz uma preparação específica para o tônus muscular, batento em um boneco (daquele de academia de ginástica conhecido como Bob), várias vezes destronquei o pulso, tive problemas com câimbras porque o trabalho é muito intenso, mas não foi nada demais não.

SRZD - Em entrevista recente, a sua esposa revelou que a sua atitute dentro de casa mudou durante as gravações e você admitiu que a reclamação era legítima. O personagem começou a dominar o ator durante os três meses intensos de filmagens?
Sandro Rocha - Era difícil - se despir do personagem - porque para manter essa energia pesada você acaba levando pra casa alguma coisa...não passa batido. Você acaba cultivando alguns hábitos do personagem e aí vem a intolerância, falta de paciência... Nós filmamos no verão, em uma época de com 40 graus no Rio de Janeiro, e isso contribui para o estresse, mas nada demais. Eu trabalhava cerca de 14 horas por dia, quase todos os dias, durante três meses... no set eu fazia o cara que mandava matar, era "o cara", e em casa eu tinha que esperar sair o bife(risos). Havia dias em que nem eu mesmo me aguentava, chegava e dormia direto pra  não incomodar os outros.

SRZD - Como foi e o que representou para você contracenar com o Wagner Moura?
Sandro Rocha - Foi maravilhoso. O Wagner é um craque, é um ator que tem uma capacidade de interpretação que é fantástica e, para mim, foi o melhor trabalho dele. Inclusive já disse isso a ele em um almoço. Ele humanizou o Nascimento, e isso é muito difícil de fazer... Foi fantástico, tive muitas cenas com ele e fiquei muito mais próximo do que no "Tropa de Elite 1". Ele pra mim é um ator completo.

SRZD - Em algum momento sentiu medo da reação do público em relação ao seu trabalho  por estar fazendo um papel de destaque pela primeira vez em filme que é a continuação de um grande sucesso e, consequentemente, gera comparações com o primeiro?
Sandro Rocha - Não, porque existe a maturidade. São quinze anos de carreira, não são dois, nem três.

SRZD - Como está lidando com a repercussão que parece ser proporcional à visibilidade resultante do filme e pelo sucesso do personagem?
Sandro Rocha - Claro que tudo é novo, tem muita coisa nova. Mudou tudo, mas continuo com o pé no chão, tranquilo. Sei que isso é uma fase que vai passar. O que vale é o que você está fazendo profissionalmente, é isso que a gente tem que capitalizar nesse momento, porque o mais importante é mostrar que sou um profissional que pode fazer grandes trabalhos. O resto que vem agregado, como fama, visibilidade é muito bom, mas não é muito a minha... fico feliz, mas não é o meu objetivo e sim fazer grandes trabalhos e receber convites para fazer grandes projetos como tem acontecido.

SRZD - E como está sendo a abordagem do público nas ruas?
Sandro Rocha - Tranquila, com carinho, é uma abordagem de reconhecimento de um trabalho e acho isso  legal. O público entendeu o filme e a mensagem que ele quis passar e isso é o mais importante. Mas, tem gente que está confundindo um pouco as coisas...principalmente a mulherada, com cantadas que eu não posso falar em uma entrevista. Tirei o meu Twitter(microblog) e o meu Facebook(site de relacionamento semelhante ao orkut) do ar por causa disso. O profissional pode ser uma pessoa pedante ou generosa. Gosto sempre de usar uma frase: "Lembra de uns anos atrás?". Todo ator tinha que lembrar disso quando ele começou lá: o que ele queria?

SRZD - Quais estão sendo as consequências desagradáveis da fama?
Sandro Rocha - Não tem... O que existe, mas aí é meu, é um entendimento de que as pessoas são diferentes. Então, da mesma forma que uma pessoa pede licença para tirar uma foto, tem outra que acha que você é dela. Mas aí você mata no peito. Não tenho sido assediado por paparazzis. Existe um pouco de falta de privacidade por causa do assédio da imprensa. E uma das minhas primeiras matérias depois do filme, o repórter colocou informações da cabeça dele, não foi fiel ao que eu disse, inventou história... Fiquei chateado. Porque isso, né?

SRZD - O diretor José Padilha já havia dito que não faria um "Tropa de Elite 2" e acabou fazendo. Qual é a sua opinião sobre a possibilidade de um "Tropa de Elite 3"?
Sandro Rocha - Pois é, não sei. Eu acho que vai ser um filme dele que ele vai fazer sobre política, que daria um fechamento pra essa causa toda  que ele já fez aí. É o que eu acredito.

SRZD - Você já imaginava o poder das milícias dentro das comunidades do Rio antes do filme?Sandro Rocha - Não, eu achava no início que estavam exagerando um pouco... e vi que não estavam, pelo que eu li, ouvi e estudei.

SRZD - Arrisca dizer qual seria a solução para diminuir a corrupção entre os policiais e evitar a formação de novas milícias?
Sandro Rocha - Eu acho que a PEC 300 tinha que ser liberada, porque se ela sai a corrupção na polícia não acabaria, mas ía diminuir bastante. O cara que ía querer ser só policial, ía ganhar bem para ser só policial. Hoje em dia, com um salário de R$1.000,00, o "cara" vai fazer o quê? Então, ele faz um trabalho paralelo como segurança e tem outros que vão para a milícia porque o retorno financeiro é muito alto. Agora, isso aí é consequência da ausência do Estado...por isso estão acontecendo essas situações, como no tráfico. Quem é o traficante? É o menino que nasceu na favela, que só consegue ver tragédia, dorme e acorda vendo tragédia... o que ele vai reproduzir? Poucos descem da favela e conseguem ter uma vida diferente, querem optar por coisas diferentes.

SRZD - O que acha das UPP'S (Unidades de Polícia Pacificadora) dentro das comunidades cariocas?
Sandro Rocha - É muito interessante, mas se não for acompanhado com esporte, cultura, lazer, fomentação de trabalho, ressocialização através de qualificação profissional... Não adianta em nada!

SRZD - Você concorda com a opinião do diretor José Padilha, que disse em um debate que colocar UPP's dentro das comunidades sem a mudança do perfil atual do policial, com tantos corruptos, poderíamos estar facilitando a criação de futuras milícias em até 10 anos?
Sandro Rocha - Eu não iria ao extremo, mas acho que se a UPP não estiver acompanhada de cultura, esporte, lazer e empregabilidade, não vai funcionar. E outra coisa, todo processo que você queira fazer de fora pra dentro não funciona. Por exemplo, eu chego com a minha idéia brilhante aqui embaixo e vou querer implementar lá em cima, não vai funcionar. Tem que chamar um líder comunitário para saber quais são as reais necessidades da comunidade. Eu acho superválida a UPP, mas acompanhada dessas ações. Senão, pode acontecer isso que o padilha falou.

SRZD - Você concorda com a polêmica levantada por uma cena do filme em que se diz que  a PM do Rio de Janeiro deveria acabar?
Sandro Rocha - Não, não vou ser radical. Mas, acho que a polícia tem que ser totalmente reformulada. Isso passa por política de cargos e salários, gratificação por tempo de serviço, coisas básicas que em todo lugar do mundo tem e aqui não. Como se pode exigir de um "cara" desse uma conduta irreparável? Não dá. Claro que eu não estou querendo justificar a corrupção, não é isso...mas, um policial que vai subir o morro sabe que pode morrer hoje.  É um fator de risco o tempo todo na cabeça deles.

SRZD - Já teve vontade de ser policial?
Sandro Rocha - Muitas vezes. Desisti porque tenho amigos que falavam pra mim:"Você é maluco". Tenho até amigos da polícia mesmo que falavam isso. Eu tinha uns 19, 20 anos quando desisti. Eu não tinha essa visão, para mim era outra "parada".

SRZD - Algum policial o abordou para comentar sobre o personagem?
Sandro Rocha - No cinema, quando fui gravar a matéria para o "Fantástico"(Rede Globo) um sargento veio falar comigo e disse que fui completamente realista no filme. Disse que eu estava de parabéns e que é assim mesmo que as coisas funcionam.

SRZD - Já surgiu algum convite para outro filme ou para fazer trabalhos na TV?
Sandro Rocha - Estou com três emissoras estudando propostas, duas de São Paulo e uma do Rio. Até o final da semana que vem devo ter resposta. Posso dizer que em uma delas eu tenho proposta para ser apresentador. Estou com propostas de teatro... já fiz muito teatro(o ator é formado pela Casa de Artes de Laranjeiras - CAL)... Mas, estou estudando porque não é um teatro habitual, é um teatro de projeto, tem toda uma estrutura, é diferente. E estou fazendo muitas palestras, sendo mestre de cerimônias... Estou com uma agenda legal montada pra eventos corporativos e publicidade muita coisa boa também sendo engatilhadas.

SRZD - Quais são os seus próximos desafios profissionais e as suas ambições na carreira?
Sandro Rocha - Estou pensando em morar um tempo fora, em Los Angeles, para aperfeiçoar o inglês. Mas, primeiro quero solidificar a minha carreira aqui no Brasil. E o segundo passo é fazer uma carreira internacional.

O ator convida os leitores para visitarem o seu blog, onde divulga a sua agenda, a repercussão do seu trabalho na mídia e muito mais. 

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